Páginas

terça-feira, 8 de março de 2011

Dia 8 de março

Dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher - Dia da luta pela Igualdade
Dia Internacional das Mulheres é visto muitas vezes como o dia de se lembrar do quanto a mulher é doce, meiga e sensível. Mensagens são lidas validando isso, apresentações são enviadas pela rede, mostrando a mulher como boa mãe, trabalhadora, apegada à imagem, alguém que deve ser respeitada por querer passar horas no salão, agradar seu marido etc.
Esquece-se muitas vezes de todo um histórico de lutas travadas, mortes, revoluções, discursos, abusos sofridos, e apesar de tudo a realidade atual mostra que a luta travada, foi significativa, mas precisa avançar sempre, não pode parar jamais! A cada dia a luta deve ser constante, e no dia 8 de março, devemos relembrar das lutas, vitórias, analisar o presente e continuar a luta por um futuro melhor.
Um pouco da história
A comemoração do dia 8 de março está vinculada à luta das mulheres por reivindicações políticas, trabalhistas e sociais. No século XIX e início do XX, homens, mulheres e crianças trabalhavam por volta de 12 horas a cada dia, sem condições mínimas de trabalho, além dos péssimos salários. Várias manifestações aconteceram, por melhores salários e condições de trabalho, diminuição da jornada diária e pelo fim do trabalho infantil.
“A cada conquista, o movimento operário iniciava outra fase de reivindicações, mas em nenhum momento, até por volta de 1960, a luta sindical teve o objetivo de que homens e mulheres recebessem salários iguais, pelas mesmas tarefas. As trabalhadoras participavam das lutas gerais mas, quando se tratava da igualdade salarial, não eram consideradas. Alegava-se que as demandas das mulheres afetariam a "luta geral", prejudicariam o salário dos homens e, afinal, as mulheres apenas "completavam" o salário masculino. Subjacente aos grandes movimentos sindicais e políticos emergiam outros, construtores de uma nova consciência do papel da mulher como trabalhadora e cidadã. Clara Zetkin, Alexandra Kollontai, Clara Lemlich, Emma Goldman, Simone Weil e outras militantes dedicaram suas vidas ao que posteriormente se tornou o movimento feminista.”
Um Dia Internacional da Mulher foi proposta por Clara Zetkin em 1910 no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, mas o dia 8 de março, que ficou sendo o dia da comemoração, vem sendo associado a um incêndio que aconteceu em Nova Iorque, na Triangle Shirtwaist Company,uma fábrica de tecidos:
“O chão e as divisórias eram de madeira, havia grande quantidade de tecidos e retalhos, e a instalação elétrica era precária. Na hora do incêndio, algumas portas da fábrica estavam fechadas. Tudo contribuía para que o fogo se propagasse rapidamente. A Triangle empregava 600 trabalhadores e trabalhadoras, a maioria mulheres imigrantes judias e italianas, jovens de 13 a 23 anos. Fugindo do fogo, parte das trabalhadoras conseguiu alcançar as escadas e desceu para a rua ou subiu para o telhado. Outras desceram pelo elevador. Mas a fumaça e o fogo se expandiram e trabalhadores/as pularam pelas janelas, para a morte. Outras morreram nas próprias máquinas.”
(Fone: Idem.)
Apesar de o incêndio ter acontecido no dia 25 de março de 1911, esse e inúmeros problemas que as mulheres enfrentavam no trabalho, contribuíram para a fortificação de um dia da mulher. O dia 8 de março foi sendo reconhecido como o Dia Internacional das Mulheres.
Pelo fim da violência contra a mulher!
Pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo, revela que:
“- A cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem no Brasil;
-Cerca de uma em cada cinco brasileiras (19%) declara espontaneamente ter sofrido algum tipo de violência por parte de algum homem;
-Um terço das mulheres (33%) admite já ter sido vítima, em algum momento de sua vida, de alguma forma de violência física (24% de ameaças com armas ao cerceamento do direito de ir e vir, de 22% de agressões propriamente ditas e 13% de estupro conjugal ou abuso).
-27% sofreram violências psíquicas e 11% afirmam já ter sofrido assédio sexual. Um pouco mais da metade das mulheres brasileiras declara nunca ter sofrido qualquer tipo de violência por parte de algum homem (57%).” (Consulte a pesquisa em: www2.fpa.org.br)
Com dados tão alarmantes, vemos que a luta das mulheres e da sociedade em geral ainda é longa. Mesmo com a Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, muitas pessoas não tem conhecimento dela. Além disso, os números são alarmantes e precisam ser reduzidos. (Leia mais sobre o assunto em: www.violenciamulher.org.br)
Há muita luta a ser travada!
Pela legalização do aborto!
Segundo dados Ministério da Saúde (SIM), 10% das mortes maternas em 2009 foram ocasionadas por abortos, espontâneos ou provocados. Segundo pesquisa realizada em 2007 (A Magnitude do Aborto no Brasil: aspectos epidemiológicos e socioculturais - Ipas - IMS/UERJ), com dados de 1992 a 2005, estima-se que ocorram 1.054.243 abortos anualmente no Brasil. (Saiba mais em: www.agenciapatriciagalvao.org.br).
Apesar desses e de outros dados tão alarmantes, o aborto continua sendo proibido, tanto legalmente como moralmente. O Estado não é laico como se diz ser, mistura fervorosamente fé com política, não aprova legalização do aborto mas, no dia 19 de maio de 2010, foi aprovado na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados em Brasília, o Estatuto do Nascituro (Lei 478/07
Essa discussão é longa, polêmica e cercada de machismo. Várias mulheres morrem por tentar um aborto, mulheres são estupradas e tem por demora do juiz, de dar a luz um filho fruto de um estupro. Além disso, várias mulheres não são atendidas de forma rápida, ou com educação por funcionários que sabem que ela cometeu um aborto.
Sabe-se que tanto as mulheres pobres, quanto as que têm dinheiro fazem aborto. Fechar os olhos para isso é deixar que morram. A campanha pró-vida, que se acha defensora da vida e protetora dos direitos, defende os direitos de quem? Eles não vão cuidar dos filhos que nascerem, já que a gravidez não pode ser interrompida, não vão comprar comida, material escolar, acordar a noite pra ver por que a criança está chorando. O Estado não dá garantias e condições para uma vida justa e igualitária, por que acham então que defendem a vida quando condenam o aborto? É esse discurso que mata mais, pensar que “a culpa é da mulher” só destroe ainda mais seu equilíbrio emocional. É fingir que vai ficar tudo bem se ela tiver o filho que vai fazer com que muitos fiquem na rua, já que a mãe não tem condições para criá-lo, e morram por terem se viciado em drogas, por roubar algo para comer.
Deve-se garantir contraceptivos para as mulheres, acompanhamento médico pelo SUS, educação sexual para que todos saibam como se prevenir gravidez e DSTs.
Há muita luta a ser travada!
Por igualdade de salários!
“O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou no dia 8 de março de 2010 a pesquisa “Mulher no Mercado de Trabalho: Perguntas e Respostas”. Ela mostra que as mulheres continuam a ganhar menos que os homens, apesar de ganharem no quesito escolaridade. Enquanto os homens receberam em média R$ 1.518,31, elas ganharam R$ 1.097,93 no ano passado. Para que o salário das mulheres se iguale ao dos homens, o rendimento das trabalhadoras precisa subir 38,3%, apesar de a pesquisa mostrar que essa diferença vem diminuindo. Segundo o IBGE, essa discrepância leva em conta a comparação de pessoas de mesma escolaridade, que exercem atividades semelhantes. “Tanto para as pessoas que possuíam 11 anos ou mais de estudo quanto para as que tinham curso superior completo, os rendimentos da população masculina eram superiores aos da feminina”, informa o instituto.”
Apesar de mais escolaridade, a mulher continua ganhando menos.
Há muita luta a ser travada!
Sem mais abusos da imagem feminina!
Objetos. É assim que muitas mulheres são mostradas na mídia. Mulheres que aparecem na televisão, e não precisam dizer absolutamente nada, desde que tenham uma boa aparência (bunda, perna e seios, tudo avantajado). Mulheres que mais parecem animais no cio, que sempre estão disponíveis para serem tocadas, olhadas pelos mais diferentes e indiscretos ângulos. Mulheres por vezes inalcançáveis, com sua perfeição estética, corpo escultural, mas que não entendem muito bem das coisas. Na verdade, elas são bonitas, mas caladas. Parecem ser bem sucedidas, independentes, ocupadas, parecem ter controle das situações. Quando na verdade ela é escrava da imagem, é submissa aos desejos masculinos, ela é imagem distorcida de muitas mulheres que assistem a TV e se veem feias, por que não são como elas.
Tudo muito diferente de muito tempo atrás, quando mostrar o pulso era algo quase erótico. Muita coisa mudou, e talvez a tão liberdade sonhada com a luta feminina não tenha vindo ainda, já que sendo escravas da imagem, subestimam as mulheres, achando que são descartáveis, realizadora de desejos sexuais a todo momento.
A mulher que decide, que organiza, que lidera, que não precisa do corpo como atrativo, por que possui sua própria identidade, sua personalidade desvinculada da exploração da imagem sensual, causa espanto e não agrada tanto a mídia.
Debates sobre o assunto devem acontecer, a mulher deve se ver na televisão e entender que aquela imagem não é ela, não daquela forma. Ela deve ser valorizada e deve acima de tudo se valorizar, como trabalhadora, como produtora de seu destino, como mulher de verdade.
Há muita luta a ser travada!
Comemoremos o dia 8, como um dia de luta como tantos outros. Luta que deve ser travada todo os dias de todas as formas, combatendo o machismo, desigualdade, violência, criminalização do aborto, e o abuso da imagem da mulher!
Feliz dia 8 de março. Lutemos mulher!
Coletivo Conceição Evaristo
coletivofeministaexnel.blogspot.com